segunda-feira, 30 de maio de 2011

Quarta bulha

O ciclo cardíaco tem duas fases, uma de contração e outra de relaxamento: eu te amo, ele contrai; eu te esqueço, ele relaxa; você vai embora, ele contrai, ele se debate, ele quer sair pela boca e ir bater na sua porta; você não existe, ele relaxa, ou bate normal, em tuns e tas sem compromisso, em tuns e tas daqueles tempos de carnaval. Mas aí você existe, ou existiu, não sei se existe mais já que não tenho coragem de discar o seu número, que apaguei da agenda mas ainda sei de cor e não sei como avisar ao coração que ele precisa relaxar só mais uma vez, para deixar um novo sangue entrar, um sangue que não contenha mais hemácias carregadas com aquele gás carbônico que roubei da sua respiração. Esse sangue com seu ar não quer sair e meu coração vai se dilatando para me manter viva, crescendo e tentando te abrigar, você que luta tanto para não ficar ali.
Em uma radiografia, os médicos ficam loucos, o coração ocupa metade do meu corpo. "Não percebi que estava crescendo tanto, doutor, que horror!". Mas veja só, que engraçado, agora são quatro as vezes que meu coração bate por você.
Mas então, na sua falta, preciso me contentar em cheirar pétalas de rosa, borra de café e alguma bobagem. Não entendo por que você não tenta se esconder em mim, ao invés de fugir, ao invés de mandar que eu me cale quando lhe peço que fique e deixe que eu te mostre o desvio de septo que construí para guardar o seu rancor.

sábado, 28 de maio de 2011

E quando é fim de noite que você pára e pensa no que anda fazendo e chega a conclusão de que se tivesse começando tudo agora, você faria tudo de novo. E é quando olha pro lado e vê aquela cor que te lembra alguém, que te lembra um tom... tom de voz, música, amor. Pergunta pra si mesma até onde iria. Pergunta pra alguém o que significa coração falhando e te dizem que é o que acontece quando se perde alguém, ou até mesmo quando pensa em perder alguém. Cruzo os dedos e faço um pedido. Peço para que não vá, pelo menos por enquanto.

terça-feira, 24 de maio de 2011

os dias

vão passando…
a saudade aumentando…
o peito lamentando a dor…
os sonhos nascendo para morrer…
e a essência de mim que fica, é sempre mais verdadeira!

segunda-feira, 23 de maio de 2011

Salão de festas

No meio do salão vazio, o rapaz a segurava pela mão, fazendo-a rodopiar desordenadamente para todos os lados, agarrando-a como se fosse um saco de batatas entre um movimento e outro.
A platéia de um só membro a observava de longe, dispensando comentários desnecessariamente ofensivos aos outros bêbados ali sentados, comentários maldosos recheados de inveja ante um desapego que jamais alcançaria - sóbria. A platéia era apenas eu, ou assim parecia. Era, na verdade, um lugar que não exigia espectadores, aonde aqueles que se colocavam nessa posição - de espectador - eram desprezados com simpatia pelos que repetidamente compravam alegria no bar. A sobriedade, entretanto, me obrigava a isso, a observar, a criticar, a querer também perder a consciência, as inibições e até mesmo o bom senso, se não fosse pedir demais.
E ela ali, irrefreável, envolta em sua soberba, sentindo-se uma modelo magrela em um provador feito de espelhos, travestindo-se de Kate Moss em um par de jeans minúsculos, deixando a auto-confiança encolher seus braços e enxugar sua imagem que, do contrário, ocuparia todo o salão, mesmo esse estando vazio, mesmo esse estando desconfortavelmente livre da possibilidade de esbarrões.
Me sentiria mal por ela, tão apertada em sua blusa de malha, tão enormemente sem jeito e sem graça. Me sentiria mal, sim, se não estivesse ocupada demais sentindo inveja.

domingo, 22 de maio de 2011

Tudo que escrevo, sinto. Tudo que sinto, não escrevo. Escrevo só algumas coisas sentidas, porque outras devem ser percebidas. Por você e por aquele outro alguém.

quarta-feira, 18 de maio de 2011

Parede feita de chão

A parede da minha sala é feita com pedras do chão da rua. Duas avenidas e três praças me encaram na vertical, com seus pedaços encaixados, confundindo cola com gravidade.
Às vezes me esqueço que é parede e erro o caminho. Ando em direção à porta e, de repente, me encontro no teto. E, então, despenco, sem graça, segurando o cós da calça enquanto vou recolhendo as unhas e dentes que perdi na queda. Por favor, não vá me dizer que eu subi na parede porque quis.
Perdi as profundidades e a realidade eu comi com pão. Me desequilibro nas pedras rachadas e mal coladas. Me perco em casa. Enfio o dedo na tomada e tropeço no fio da televisão. Vejo os olhares tortos de quem come com calma na mesa da cozinha. Talvez a casa só esteja rodando em volta de mim (ou talvez eu que esteja rodando em volta da casa).
Quero mostrar pra você o que eu vejo agora que meus óculos ficaram presos no lustre. Deixe que eu me explique antes de me mandar descer e esquentar a sopa - esquentar não, ferver - para matar até os últimos resquícios de bactérias e sentimentos e lembranças que ainda me permito guardar de você.
Fico de olhos fechados, torcendo para que eles não quebrem ao meio como o resto de mim. Talvez não exista mesmo mais o que falar, não agora que percorro tantas ruas entre o chão e o teto, não agora que cavei buracos por toda a cidade para me criar uma parede.
Você pode me vendar e contar até dez, me empurrar e segurar os meus pés. Não me importa mais o que faça, comigo ou com suas garotas, depois que construí minha parede com pedras de rua, em qualquer lugar que eu esteja, me encontro no chão.
Queria até escrever algo bonito, sincero... Queria escrever algo que surgisse assim do coração, palavras puras, carregadas de um sentimentalismo profundo, poderiam até ser palavras mal escritas, rabiscadas… Eu quero sentir todo esse amor que eu tenho e não sei dar, quero transparecer tudo que insisto em enterrar em mim, mas acho que hoje não é o dia, quem sabe amanhã, talvez...

domingo, 15 de maio de 2011

Eu tenho certezas incontestáveis, certezas essas que me deixam de pé, que me levam a crer que a vida não é só o que vejo, é mais, bem mais. É uma mistura de emoções: amor, amizade, ódio, afeto, indiferença, saudade... Sentimentos diferentes, mas que vivem entrelaçados dentro de cada corpo, de cada ser, de cada história, em mim...

sexta-feira, 13 de maio de 2011

De repente você cai em si e tenta consertar todas as pedras que foram desmoronando pelo caminho. Mas a verdade é que não existe um conserto pra elas, existe uma forma de juntá-las e guardá-las junto com todos as outras coisas que ficaram para trás, junto com aquelas lágrimas e sorrisos e arrependimentos e amores. Junto com seu coração que talvez tenha tropeçado em alguma pedra e não conseguiu seguir em frente (por enquanto).

segunda-feira, 9 de maio de 2011

Ontem, por algumas longas horas, açoitada por uma imensa tristeza, tive vontade de desistir. Desistir da vida, dos amores, dos amigos, de tudo que deveria me proporcionar felicidade. Queria ficar ali, no meu canto, no meu manto. Lembranças de erros que ainda assolam meu presente, massacraram minha mente. A escuridão tinha tomado conta do meu eu, do meu. Não via mais nada, nem razões parar continuar. E as lágrimas escorriam involuntariamente, onde o silêncio reinava. E só um pensamento: Você vai me fazer falta.

sábado, 7 de maio de 2011

Sopa de macarrão

E daí minha mãe me disse que eu não posso mais fugir. Da realidade, do espelho, das pessoas, da varanda. Tentei explicar que é só o que eu sei fazer, tentei tricotar uma boa desculpa para me justificar, para me aquecer, para enrolá-la. Mas ela conhece minha pobreza de argumentos, minha falta de traquejo, minha vontade de enfiar a cabeça embaixo da terra e esperar o dia terminar - ou os dias - e não me deixa falar, não me deixa sequer abrir a boca sem me alfinetar, sem martelar meu dedo mindinho com o passado.
Meu passado cheio de flores de plástico e chocolates derretidos. Cheio de camisetas suadas e mãos geladas por baixo da mesa, de passeios na pracinha e conversas abafadas por música alta, de contas de celular que vou pagar até me aposentar. Histórias transbordando de "quases". Quase não fugi. Mas fugi.
Meus dedos são calejados de ansiedade, de impaciência. Minha mão inteira é áspera de uma vida me esfregando em fronhas para limpar as lágrimas, arrastando a cama de um lado para o outro tentando fugir da insônia. Fugir me deixou áspera, eu acho. "Posso parar a qualquer momento" e lá estou eu fugindo de novo. Da análise, do telefone, de um reencontro no corredor, do amor, do merthiolate que arde, de mim.
Deixo que as pessoas erradas abram meu coração. Permito que pessoas erradas cortem meu peito. E eu sempre fujo quando sinto o primeiro talho do bisturi. Confundem morfina com soro fisiológico e me cortam mesmo assim. Chego em casa sangrando e mostro o corte que trago no peito, bem limpo, bem fácil de costurar, mas minha mãe pega a linha preta e costura um grande mapa em minha pele, o mapa de onde eu não devo mais ir. Ou o mapa para onde devo fugir? Não sei, fechei os olhos nessa hora e nem quis saber o significado. Só sei que transformo amor em passado, como quem coloca caldo demais no macarrão e o transforma em sopa.

sexta-feira, 6 de maio de 2011

Fugindo em disparada, me deixando para trás. Não carregava nada, não me esperava. Furiosa consigo, esbravejava. Solitariamente, retornou a seu casulo. Descobriu em si a maior de suas decepções. Descobriu que, não sei, preferiu não falar. Preferiu não pensar. Era contra sua vontade. Controlava o choro, se desabava em prantos. Escondia o remorso, cheirava a orgulho. Ela se abandonava aos poucos, me abandonava também. Deixando o que costumava ser para simplesmente ser. Desarmou as certezas e caminhava com os pés bem calçados para não se machucar, ainda mais. Tentou estar ao alcance de si e mais longe de mim. Pensou mais uma vez em algo, que também não me falou, pois não havia coragem suficiente. Ela se destroçava, se desiludia. Se confrontava e continuava a se amar acima de tudo e todos. Eu observava-a seguir e via aqueles pés calejados de tanto caminhar e a alma de uma narcisista.

quinta-feira, 5 de maio de 2011

Não quero me importar, mas me importo. Isso deve-se ao meu amor. Eu gosto, eu me importo. Mesmo sem precisar da importância que dou. Te dou. Sem me importar…

terça-feira, 3 de maio de 2011

é diferente

E nesses tempos tão estranhos, esmigalho os biscoitos com as mãos e os jogo no copo. Assisto enquanto eles se desmancham e vão tornando o leite em volta cada vez menos branco. Os como de colher. Colher de café para fazer durar mais. Sempre quero que dure mais.
Aproveito a liberdade da solidão para não me importar em pegar um guardanapo quando sinto o leite escorrendo pelo canto dos lábios. Limpo com as costas das mãos e seco na fronha do travesseiro. O travesseiro no qual encosto a cabeça para dormir.
Você nunca pode comer na rua do mesmo jeito que come em casa. Você não deveria compartilhar esses hábitos tão particulares também, mas às vezes você conhece algumas pessoas que parecem entender e então você fala. Você conta suas nojeiras mais secretas, sem imaginar que, aqueles com olhos tão compreensivos, nunca comeram um pedaço de pizza sem usar talheres.
Pessoas que fingem te entender, mas que não conseguem disfarçar a expressão de asco ao te ouvir e te ver.
Na rua você tem que estar com o cabelo penteado, com as roupas sem manchas, com os cotovelos longe da mesa e os garfos e facas alinhados em volta do prato. Na rua você tem que ser alguém bem educado, bem resolvido, bem vestido.
Por isso, não quero te encontrar em um restaurante. A rua tira um pouco do que cada um é de verdade. Eu já separei uma enorme pilha de filmes para assistirmos, mas você vai ter que parar de me oferecer seus lenços para eu limpar meu queixo sujo de molho de tomate. Estamos em casa, de pijamas coloridos, com golas duras de pasta de dente. Mangas compridas limpas não têm a mesma graça. Usar talheres em casa não sacia a fome. Você dizer que me entende pelo pouco que te contei é hipocrisia. Você não vai me entender até que seja obrigado a espanar as migalhas de pão da minha cama com o antebraço. Por favor, senta, deita, se enrola na coberta e deixa que amanhã o lençol já vai estar seco.

segunda-feira, 2 de maio de 2011

Ultimamente, não estou criando grandes expectativas pelo o que está por vir. Mas não significa que estou desempolgada, desesperançosa ou até conformada. E sim, procurando não me decepcionar mais. Quero ser suprendida com coisas boas que os ventos soprarem para minha vida. Se soprarem para outra direção, tem nada não. Eu vou a procura de outros ares, de outros ventos, de outras coisas, de outros sabores. A lei agora é essa: o que tiver de ser, será.