quinta-feira, 30 de junho de 2011

conversa entre vizinhos

- Bom dia, Seu Lázaro.
- Bom dia, Dona Laís. E aquele vazamento? Resolveu?
- Não, ainda está lá...
Ando pensando em comprar novos panos de chão, coloridos, para conter a água com estilo.
- Você precisa ver isso, só chamar o Seu Juarez. Ele resolve rapidinho!
- Seu Lázaro, eu enrolo a vida por vinte anos.
Nunca vou à festas porque o vestido vai me engordar.
Adio amor todo final de semana e um salário melhor todo mês. .
Acho que ainda vamos conviver com o vazamento por um bom tempo.
- Dá logo um nome para o vazamento, esse isqueiro aqui se chama Zico!
- Isso, seu Lázaro. Você me entendeu!
Mas esse cigarro vai te matar, hein..
.- Viver também, menina. Viver também...

terça-feira, 28 de junho de 2011

Procura-se

Sempre pensei como adulto, sempre sofri como adulto, mas agora, depois de tanto ouvir o contrário e relendo alguns diários e textos antigos, vejo páginas e mais páginas contendo apenas pensamentos de criança. Que criança é essa que aparentemente eu fui e nunca conheci?
Fiquei tentando encontrar uma explicação para entender essa distância tão grande entre o que eu achava que sentia e o que eu sentia de verdade, ou o que eu deixava transparecer através de palavras coloridas com canetas hidrocor e com cada letra de um tom diferente de rosa, e só consegui pensar em uma coisa: talvez a intensidade de algumas idéias e pensamentos seja tão grande (para mim e para qualquer um) que quem os têm em mente acaba por se sentir mais maduro e mais adulto apenas pelo fato de tê-los. Uma vez a pessoa sendo arrebatada por esses sentimentos tão assustadoramente desconhecidos e não conseguindo compreender a si mesma, ela acaba achando (como eu também acho) que aquilo só pode ser um sentimento, um sofrimento, um pensamento de adulto, já que nos acostumamos a relacionar a vida adulta com conceitos de sabedoria, maturidade e compreensão de certas lógicas e fatos que uma criança jamais teria a capacidade de entender. A incompreensão, portanto, nos leva a amplificar o sofrimento. Porém, quando tudo o que parece tão grande dentro da cabeça é transcrito para o papel, podemos perceber toda a imaturidade inoculada em lágrimas para a qual estávamos cegos. Lendo você consegue avaliar as próprias palavras como se fossem de outra pessoa e, bem, as outras pessoas sempre parecem tão infantis e egocêntricas, não é mesmo? Sim, elas são, e você também é, e eu também sou, mas é impossível perceber isso se não nos olharmos de fora e não nos abrirmos para a análise crítica e impiedosa de nós mesmos, nós que, infelizmente, insistimos em sofrer como adulto por coisas de criança.

sexta-feira, 24 de junho de 2011

A ausência enfraquece
as paixões medíocres
e inflama as grandes paixões,
assim como o vento
apaga uma vela
e atiça um fogueira.

quinta-feira, 23 de junho de 2011

"Ela me disse: o amor é paciente. É, talvez seja mesmo. Eu é que não sou. Quem sabe essa minha falta de persistência e o meu pavio — tão curto, tão altamente tóxico — sejam o que me faça sempre me apaixonar, mas nunca amar como de fato o amor merece ser vivenciado e construído: em estado de paz. Eu, que ou explodo ou esfrio. Que mordo, para depois assoprar. Caio de amores ou fujo às pressas. Porque o tempo é curto, é agora e amanhã, e a cada dia perdido sinto como se fosse menos um na memória e mais um na pilha desses tantos desinteressantes." (…)

domingo, 19 de junho de 2011

encerro aqui

Comecei a escrever com a intenção de afogar os sentimentos que haviam em mim, arranca-los e joga-los ao vento. Escrevia para tentar te esquecer, para me convencer que era tudo fruto da minha imaginação, que meu amor tão irracional não passava de uma mentira inventada. Queria me livrar dessa paixão que doía, esse desejo tão profundo de me envolver em você. No começo até que parecia funcionar os dias eram até mais leves, mais simples… Porém o que eu não sabia era que só te amava mais, te desejava mais e me camuflava na esperança de me perder nas minhas próprias palavras.

sexta-feira, 17 de junho de 2011

Ela sentou na janela, pegou sua xícara de café quente e ficou ali. Lá no céu a lua estava cheia, sem nuvens, irradiava uma luz que fazia seu coração brilhar. Ela se pegou pensando no que havia acontecido naquela tarde, aquele beijo roubado, aquela menina que antes era apenas a sua amiga, se pegou pensando que havia gostado, e inevitavelmente se pegou pensando nela, em como era linda, como tinha um sorriso largo de muleca, lembrou daquele olhar profundo, provocante que havia ganhado. Quem era ela que se achava no direito de bagunçar as pessoas assim? Se pegou pensando que à queria novamente. Ficou com medo, aquilo não poderia estar acontecendo… Se apaixonar.. já não estava mais sobre seu controle. Então sorriu desejando que ela também estivesse pensando

terça-feira, 14 de junho de 2011

”- Com o tempo, as coisas sempre mudam.

- A gente se acostuma, não é?

- Sentimentos também acostumam.

- Sempre?

- Sempre.”

domingo, 12 de junho de 2011

Tenho essa mania de desviar ou abaixar o olhar toda vez que alguém olha em meus olhos. Não é vergonha, mas sim medo de que alguém descubra tudo que escondo com um sorriso, mas que não consigo esconder através do olhar.

sábado, 11 de junho de 2011

Da inexorável insatisfação

Quero um cigarro
um chocolate
um porre
uma oração
um orgasmo
um grito
um esconderijo
uma dor
um amor
um Lexotan
um paradigma
uma loucura
uma mulher
um motivo
um subterfúgio
uma fuga.

Irritante. Indolor. Inconstante. Irreal.

terça-feira, 7 de junho de 2011

Esquecer

Tentar entender nunca é o bastante, porque eu não entendo. Eu juro que tento, que passo horas pensando e juntando hipóteses, mas não chego a conclusão alguma. Alguns dizem que é bobagem e logo passa, outros dizem que é porque tem que ser assim, que há algo a acontecer ainda. Mas o que? Não sei em quem acreditar, não sei se ponho a culpa em mim ou se na vida que não a tira daqui. Talvez eu não me esforce o suficiente pra esquecê-la, ou tenha que ser exatamente assim. Mas isso não passa, a situação não muda, é sempre a mesma e por isso vira monotonia. O sentimento continua aqui, intacto. Já não sei o que falar e nem consigo chorar, tão pouco consigo sorrir ao lembrar. Dói muito. É quase tortura, só um pouco melhor, porque me acostumei. Não sei o que fazer. Como apagar lembranças que simplesmente não vão embora independente do que eu faça? O tempo não apagou, nem a falta de tanto amor curou. Eu ainda a vejo sorrir, ainda ouço sua voz no meio desse silêncio e a quero todos os dias antes de dormir. Nesse silêncio estou eu, gritando, pedindo, para que ela esteja ao meu lado novamente. Em todo instante eu a recordo e deve ser porque espero, porque ainda sou capaz de sonhar, de ter esperanças e sou forte o bastante pra viver com ela em pensamento todos os dias depois de tanto tempo...

sexta-feira, 3 de junho de 2011

Mudanças

Para começar, não me entenda mal, eu não sei escrever. Muito menos sobre o viver, amar, talvez sobre medo e algumas neuroses. Isso aqui é só um texto de fundo de gaveta na primeira pessoa. E não espalha por aí, mas escrever na primeira pessoa é péssimo.

Era uma vez, em um bairro distante... Eu sempre matava aula para passar o dia inteiro com minha avó. Eu e ela, a casa era nossa, aquele era o nosso mundo favorito. Comentando jornais locais e fazendo bolachas. Podia ser em qualquer época, ela fazia bolachas com pedacinhos de chocolates. Eu nunca gostei, mas era delicioso ver sua alegria preparando o quitute tão doce. Quando se passa o dia inteiro em casa dividindo banalidades com quem temos carinho, passa rápido. Minha avó colocava a mão na cintura enquanto recolhia a roupa do varal e exclamava aflita: "Olha, Ise! O dia já acabou e nem percebemos!" E eu distraída dizia: "Calma, vó. Amanhã tem outro."

O viver e o amar são isso. O anoitecer que chega distraído e sem grandes preparações, sorríamos com a pressa do tempo e íamos tomar café.

Ontem, lá estava em um dos meus programas preferidos: que é ir ao supermercado, escolher vinhos, chocolates e tomates. O que não deveria ser a dieta apropriada para uma moça do meu tipo. E me deparo com bolachas com pedacinhos de chocolate! Já anoiteceu, o tempo passou e não percebi. Não assisti ao filme da Julia Roberts (Comer, rezar e amar), uma vez que pratico todos os verbos do título. Também não tenho ligado o suficiente para os meus amigos. Ando perdendo um precioso tempo no trânsito e com algumas garotas banais.

Hoje chorei lendo o jornal. Um hospital de Pernambuco criou para seus pacientes terminais uma "Caixa de Desejos". O personagem da matéria, Renato de 26 anos desejou casar-se com sua namorada. Em 3 dias preparam tudo! Bolo, vestido de noiva, terno... Casaram-se no civil e religioso. Na fotografia, apesar dos tubos, a alegria no olhar vale mais que muita morfina, afirmam alguns médicos. Na última sexta seu corpo foi sepultado, seus familiares estavam em paz e Renato conseguiu doar alguns órgãos que não estavam tomados pelo câncer.

Constatei que choro lendo jornal, que chorei ao não comprar o ingresso para o show do Maná e que me ocorrem lágrimas quando o aleatório toca pela terceira vez um certo Caetano e quando penso que você nunca vai entender a crônica que te escrevi.
Está decidido que não há mais tempo nessa vida para joguinhos, mentiras óbvias, leviandade com o coração alheio, prometer e não cumprir, deixar para mais tarde. Não há mais espaço para acostumar-se com que dói.

É como eu sempre digo: algumas bolachas e uma matéria de jornal podem mudar perspectivas.

quinta-feira, 2 de junho de 2011

Tomografia não computadorizada

"Se o ser humano fosse um projeto bem sucedido as pessoas não ficariam tão doentes ou partiriam o coração das outras." Faço essa observação na sala de espera enquanto meu pai balança a cabeça naquele clássico minha-filha-tem-o-dom-de-falar-merda. Uma senhora concordou suspirando.
Enquanto preenchia os papéis do plano de saúde, senti um medo real de descobrirem tudo que se passa aqui dentro. Bastaria uma imagem e chamariam Dr. House, eu viraria caso de estudos. "Como ela disfarçou equilíbrio e saúde mental por todos esses anos?"
Sim, sou alérgica a penicilina e gente mal-educada. Tomo Centrum e Twitter todos os dias. Sinto uma dor de cabeça fortíssima há uma semana, já esse sentimento de viajante solitária é desde os cinco anos. "Algum trauma?" Todas as comédias românticas que já assisti. Choro enquanto caminho na rua, provocada pelo Lenine no aleatório... é um trauma recente.

"O procedimento é rápido, tire os brincos e qualquer outro acessório na região do pescoço." Os brincos preferidos da semana que comprei na feirinha da praça, perto daquela cafeteria que você iria amar. Acho que seu perfume ainda não pode ser identificado pela medicina diagnóstica.

"Mais alguma observação, senhora?" Quase todas.

Tec.Tec.Tec. Tum.TumTum.Tec.Tec.Tec.

Hoje eu fiz uma tomografia, encontraram você lá, ocupando grande parte da minha cabeça. Pressionando entre o conteúdo da prova da faculdade e a preocupação com a conta do Mastercard. Logo você que está banida do último pensamento da noite e me fazendo falta há algumas semanas. É que podemos tirar as músicas do iPod, bloquear o contato virtual mas o córtex cerebral é fatal.

quarta-feira, 1 de junho de 2011

Disritmia

Esse é último capítulo, o fim da história delas. Últimos capítulos podem ser chatos ou salvar vidas. Será que o casal vira livro de cabeceira? Ou as conversas confusas serão vendidas em algum sebo por 2 reais?

Os Beatles cantaram que no fim "o amor que a gente ganha é igual ao que a gente sente". A capa do livro que a estudante lia no ônibus decretava que “O único final feliz para uma história de amor é um acidente”. A geração MSN alterna entre: “você é minha vida” ou “você gosta demais de mim”. Paulo Mendes Campos explicou que o amor acaba, talvez entre um coração dependente passando por um café frio chegando a irritação eterna.

E a história do sábio par que começou a namorar no primeiro dia de abril, mas ser esperto e tranquilo não convencem o amor a ficar. A cada dia da mentira após o fim, é como se nunca tivesse acontecido. É complicado, todo ponto final quer ser reticências, deixando essa vontade de algo que ainda não foi vivido completamente, as possibilidades que não passarão de invenção, o filho que não nascerá, o show perfeito para vocês irem juntas...

Tem mulher que nunca mais atende o tal número que antes liberava adrenalina. "Love will tear us apart, baby". Tem gente que termina por e-mail. Há casal que nunca termina, apesar de saber que devia. “Todo carnaval tem seu fim” cantavam equivocadamente os Hermanos. Porque todo carnaval tem o ano que vem e a próxima roda de samba. Outro beijo perfeito pra você anda por aí distraído com algum copo de cerveja e a sensação de orgulho ao perceber que alguém tão incrível te ama vai acontecer de novo.

Mas para dar o próximo passo vamos observar como se mata um quase amor:

[...]

- Oi. Está dormindo?
- Que horas são? Aconteceu alguma coisa?
- Bebi aquela garrafa de vinho que você comprou pra mim.
E decidi que sua amiguinha não vai dá pra ser. Ou amantes ou nada.
- Porra! São quatro da manhã!
- Isso. E você é essa moça linda, incrível, independente...
Como são as mulheres que eu tenho medo de amar.
- As mulheres? Plural? Amantes? Será que o vinho estava estragado?
- A mulher que eu tenho medo de amar. Singular. Você, idiota!
- Medo? Eu só sou a mocinha mais solitária que já segurou uma taça de vinho.
Tantas conversas, tantos emails trocados...
Você sabe de todos os meus fracassos amorosos.
Já deveria estar macetiada em mim.
- É sério. Para de fazer piada.
- Falando sério...
Acho que todo aquele frio que passei valeu a pena. De verdade.
Essa iluminação que você teve... Está certíssima.
Completamente apaixonadas uma pela outra ou nada.
- Que merda, garota! É a briga entre o quase amor e o medo puro.
O amor está perdendo no melhor estilo Vitor Belfor para o Anderson Silva.
- Com um lindo chute no rosto. Pobre Vitor, pobre amor.
- Mas nós duramos mais que os 3 minutos daquela luta.
- Sabia que o solo de Machu Picchu se move um centímetro por mês em
direção ao abismo?
Vai sumir! A cidade inteira anda, enquanto nós nunca saímos do lugar.
Nós duas, as maníacas compulsivas pelo futuro do pretérito.
- A gente se amaria de verdade? Daria certo por quanto tempo?
Haveria alegria além dos 90 minutos? Eu sempre me pergunto isso.
Você não?
- Eu teria passado o resto da vida fingindo gostar do seu péssimo gosto para
filmes, baby.
- Acho que deixaria você colocar o nome do nosso filho de Chico, meu amor.
- Sem “meu amor”, por favor.
Porque se vamos falar sério, as quatro da madrugada, seria bom parar com as mentiras e os vícios de linguagem usados para levar alguém pra cama.
- Não fala comigo como se eu não fosse a única aqui a te ligar e te procurar.
Como se eu não tivesse lutado por você.
- Não lutou e tudo bem.
Esse tipo de coisa não se pede, como a dedicatória de um livro.
A primeira página pode estar cheia de afeto e intimidade ou não.
- Gosto de você até quando fracassa na personagem de menor abandonada.
- Percebeu? Está indo... Está acabando.
- Não posso mais te ligar? E no MSN a gente ainda pode conversar?
- Se você sentir saudade...
Não adianta mensagem de texto, email ou escrever offline no MSN.
Se você realmente sentir falta de mim, faz tudo diferente e a gente toma aquele café.
Se cuida, garota.
- Hey, não seja assim tão dura com as palavras!
- Beijo!


[Fim]