quinta-feira, 24 de novembro de 2011

Eu não sei esperar.
Até porque,
o tempo na espera
passa devagar
delonga
alonga
todo o resto
que eu não quero saber.

quinta-feira, 17 de novembro de 2011

Tenho um apego por minhas dores, detesto admitir isso, mas tenho. Não é gostar de sofrer… mas é que… é uma ocupação. De repente ter uma meta: extirpar aquilo, superar aquilo. De repente ter um desafio, e se tem uma coisa que eu odeio fazer é desistir… Ter uma meta, ter um lugar pra chegar: o sem-dor. Mas ninguém avisa que chegar nesse lugar também é assustador. De repente não ter a meta, não ter lugar onde chegar, ter que criar um novo objetivo. Evitar dor é praticamente chama-la. Mas agora o desafio é maior. É me desapegar dela. É viver sem pensar nela (porque esse pensamento agora é estéril) e sem temer outra. É arrumar alguma outra coisa que me ocupe a mente, que me mova o corpo. Não sei se você consegue entender isso, não sei se eu consigo.

terça-feira, 8 de novembro de 2011

Silêncio não é ouro

Depois que o silêncio leva embora a tempestade, você tenta diferenciar as flores e os dias de sol do que realmente foi verdade, solta versos para o vento, para um pedestre estrangeiro, se decompõe em explicações nos braços do dono de um bar, no ombro de uma garçonete infeliz, diz o que faltou ser dito para qualquer um, menos para mim. Não espere que eu acredite em palavras que chegam até meus ouvidos por telefone-sem-fio, é uma brincadeira sem graça aonde as frases nunca chegam ao seu destino totalmente corretas, o que me faz pensar que, desde que saíram da sua boca, já estavam incompletas.
Palavras são difíceis de consertar, é melhor procurarmos um especialista, é melhor você ligar para um bombeiro e pedir que traga Super Bonder; eu não vou estar em casa quando ele chegar, trate de avisá-lo que o problema dessa vez não é no encanamento, mas sim na sua gramática, pergunte o que pode ser feito para nos ajudar. Mostre-o uma a uma - suas palavras-, mesmo aquelas que eu já sei que são mentiras, mesmo aquelas que eu tive vergonha de aceitar, conserte todas, mas não permita que ele use chiclete ou alguma cola fajuta para remendá-las, assim elas novamente irão se quebrar e, quando eu voltar, quero ter palavras inteiras para iluminar, do início ao fim, o nosso jantar.

quarta-feira, 2 de novembro de 2011

Sempre quis ser escritora-personagem. Como naqueles livros que leio e tenho certeza de que a cena aconteceu. Sempre quis ter uma vida digna de um romance bem escrito, com algumas muitas doses de sexo, drogas e rock and roll. De um romance escrito por um alguém meio bêbado, meio gênio, meio nada. Que - num ataque narcista - sempre quis que fosse eu. Às vezes paro no meio de um diálogo e penso: Isso daria um bom conto. Às vezes até digo em voz alta, mas pouca gente entende. Eu sempre quis ser personagem, nem que seja de mim. E quase sempre sou… Mas nesse último ano, por ironia do destino, fui demais. E quase desisti dessa coisa de ser o que escrevo. De ser os codinomes que invento, porque é completamente exaustivo. No livro você vira a página e a ressaca já passou, a culpa ja ficou pro capítulo passado. Na vida demora bem mais. Esses diálogos maravilhosos entre casais que acabam e reatam o relacionamento numa velocidade extrema são lindos de ver, mas não de viver, cansam a alma da gente. Personagens podem ser felizes ou infelizes porque somos nós que os criamos e que decidimos. Mas quando eu vivo a cena, não depende só de mim, a cena se faz.