Estou no meio do caminho e as pernas pedem
descanso. Os pés doem, sujos de terra, exaustos.
Caminhei tanto depois que nos conhecemos. Mal
vejo a menina torta que eu era naquele dia frio. Era mais gostoso quando você
andava comigo. Mesmo à frente, você me estimulava a dar passadas mais largas,
aumentando o ritmo para que chegássemos mais cedo. De repente pisquei os olhos
e cadê você?
Estou no meio do caminho e daqui nem dá pra ver
o meu destino. Parecia mais simples quando éramos duas, rumo ao desconhecido.
Andei tanto e já não há nenhum estímulo.
Continuo porque estou no meio do caminho e não dá para parar aqui, nessa
maldita estrada de terra onde não passa ninguém.
Será que você se escondeu para me observar ou cansou
da minha lentidão e foi na frente? Eu nunca te deixaria para trás.
A cada cem passos eu paro e olho ao redor. Não
tem cabimento voltar, mas dói tanto seguirem frente. Dói tanto. Doem as pernas,
os pés, o âmago, o peito. Doeria meu coração se eu ficasse à vontade para
escrever como os velhos poetas.
Lembra quando começamos essa jornada? Eu era
apenas uma menina mal acostumada e você corria para que eu a alcançasse. Só
alcançava porque você deixava. Sem você a estrada parece mais esburacada, mais
tortuosa, mais difícil. Será que a gente se encontra lá na frente?