domingo, 11 de agosto de 2013

Perfume

Comprei um vidro do seu perfume e encharquei a minha casa de você, derramei você nos livros, nos travesseiros e nos lençóis, te derramei nos sapatos e te deixei grudar nas minhas meias, te espalhei pelos cabelos e pelas dobras do corpo, te misturei nas fontes de água e tomei banho com você, tomei banho de você. Tomei esse banho e depois não tomei nenhum outro mais, deixei o seu cheiro ressecar e formar crostas, deixei você cair da minha pele e virar poeira, parei de varrer a casa e tudo o que eu tenho virou também poeira.
Pensei que não era o bastante e resolvi te derramar ainda nas minhas roupas, nas roupas dos meus pais, dos meus avós, dos meus amigos, nas roupas que ficam expostas nas vitrines das lojas, nos tecidos sem forma que irão tornar-se roupas, nos fios de náilon, nas crianças chinesas, nas plantações de algodão, na máquina de lavar. Quero sete bilhões de pessoas cheirando à você. Quero sete bilhões de você cheirando à pessoas. Quero você cheirando à você, já gastei todo o perfume.