segunda-feira, 23 de maio de 2011

Salão de festas

No meio do salão vazio, o rapaz a segurava pela mão, fazendo-a rodopiar desordenadamente para todos os lados, agarrando-a como se fosse um saco de batatas entre um movimento e outro.
A platéia de um só membro a observava de longe, dispensando comentários desnecessariamente ofensivos aos outros bêbados ali sentados, comentários maldosos recheados de inveja ante um desapego que jamais alcançaria - sóbria. A platéia era apenas eu, ou assim parecia. Era, na verdade, um lugar que não exigia espectadores, aonde aqueles que se colocavam nessa posição - de espectador - eram desprezados com simpatia pelos que repetidamente compravam alegria no bar. A sobriedade, entretanto, me obrigava a isso, a observar, a criticar, a querer também perder a consciência, as inibições e até mesmo o bom senso, se não fosse pedir demais.
E ela ali, irrefreável, envolta em sua soberba, sentindo-se uma modelo magrela em um provador feito de espelhos, travestindo-se de Kate Moss em um par de jeans minúsculos, deixando a auto-confiança encolher seus braços e enxugar sua imagem que, do contrário, ocuparia todo o salão, mesmo esse estando vazio, mesmo esse estando desconfortavelmente livre da possibilidade de esbarrões.
Me sentiria mal por ela, tão apertada em sua blusa de malha, tão enormemente sem jeito e sem graça. Me sentiria mal, sim, se não estivesse ocupada demais sentindo inveja.

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