Eu não vou pensar em você hoje. Não vou pensar nos seus
olhos fechados e depois não vou pensar neles abertos. Não vou imaginar como
fica a minha própria imagem de cabeça para baixo, quando projetada na sua
retina. Não vou pensar no diâmetro das suas pupilas e muito menos na coloração
das suas mucosas. Não vou pensar na profundidade das suas órbitas ou na
inervação motora das suas pálpebras. Os movimentos dos seus olhos podem
pertencer a qualquer um enquanto eu não estiver pensando em você.
Eu não vou pensar nas rachaduras dos seus lábios e nem nos
sorrisos que escapavam por ali, não vou verificar se tem cianose, não vou me
preocupar com a sua hidratação, nem mesmo vou pensar no sabor da sua saliva e
em tudo o que eu me esqueci de dizer. Não vou me lembrar das últimas palavras
que eu ouvi de você - nem das primeiras. A sua voz pode pertencer a qualquer um
enquanto eu não estiver pensando em você.
E, finalmente, eu não vou pensar no seu calor intoxicante
entupindo meus poros, eu não vou pensar nas suas roupas amassadas e quentes
caindo no chão, eu não vou pensar na sua febre nem no meu termômetro, eu não
vou pensar em encostar em você. Eu não vou pensar em você. Hoje.
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