segunda-feira, 28 de março de 2016

Primeiro dia de vida

A vida é impulsiva e dá voltas por conta própria, sem qualquer propósito ou direção, ela dá voltas e mais voltas dentro de si mesma e, de tanto te fazer virar, acaba sempre te trazendo de volta para o mesmo lugar. A vida é repulsiva e te transforma em parasita, ela somente te permite viver na condição de um ser dependente, frágil e incapaz em uma constante e interminável espera por panos quentes e abraços de proteção.

A vida pulsa por entre os dedos e se enrosca no pescoço, ela corre de um lado para o outro equilibrando-se em um cordão. A vida te enforca enquanto te alimenta, te oferece oxigênio e depois te sufoca. A vida é suja e barulhenta, fria e desorganizada. A vida te rasga por dentro e o respirar te queima os pulmões. A vida te passa de mão em mão e te suga, te seca, te examina, te dá um nome e te confina. Viver é um problema. Melhor não sair da barriga.

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