segunda-feira, 30 de maio de 2011

Quarta bulha

O ciclo cardíaco tem duas fases, uma de contração e outra de relaxamento: eu te amo, ele contrai; eu te esqueço, ele relaxa; você vai embora, ele contrai, ele se debate, ele quer sair pela boca e ir bater na sua porta; você não existe, ele relaxa, ou bate normal, em tuns e tas sem compromisso, em tuns e tas daqueles tempos de carnaval. Mas aí você existe, ou existiu, não sei se existe mais já que não tenho coragem de discar o seu número, que apaguei da agenda mas ainda sei de cor e não sei como avisar ao coração que ele precisa relaxar só mais uma vez, para deixar um novo sangue entrar, um sangue que não contenha mais hemácias carregadas com aquele gás carbônico que roubei da sua respiração. Esse sangue com seu ar não quer sair e meu coração vai se dilatando para me manter viva, crescendo e tentando te abrigar, você que luta tanto para não ficar ali.
Em uma radiografia, os médicos ficam loucos, o coração ocupa metade do meu corpo. "Não percebi que estava crescendo tanto, doutor, que horror!". Mas veja só, que engraçado, agora são quatro as vezes que meu coração bate por você.
Mas então, na sua falta, preciso me contentar em cheirar pétalas de rosa, borra de café e alguma bobagem. Não entendo por que você não tenta se esconder em mim, ao invés de fugir, ao invés de mandar que eu me cale quando lhe peço que fique e deixe que eu te mostre o desvio de septo que construí para guardar o seu rancor.

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