quarta-feira, 1 de junho de 2011

Disritmia

Esse é último capítulo, o fim da história delas. Últimos capítulos podem ser chatos ou salvar vidas. Será que o casal vira livro de cabeceira? Ou as conversas confusas serão vendidas em algum sebo por 2 reais?

Os Beatles cantaram que no fim "o amor que a gente ganha é igual ao que a gente sente". A capa do livro que a estudante lia no ônibus decretava que “O único final feliz para uma história de amor é um acidente”. A geração MSN alterna entre: “você é minha vida” ou “você gosta demais de mim”. Paulo Mendes Campos explicou que o amor acaba, talvez entre um coração dependente passando por um café frio chegando a irritação eterna.

E a história do sábio par que começou a namorar no primeiro dia de abril, mas ser esperto e tranquilo não convencem o amor a ficar. A cada dia da mentira após o fim, é como se nunca tivesse acontecido. É complicado, todo ponto final quer ser reticências, deixando essa vontade de algo que ainda não foi vivido completamente, as possibilidades que não passarão de invenção, o filho que não nascerá, o show perfeito para vocês irem juntas...

Tem mulher que nunca mais atende o tal número que antes liberava adrenalina. "Love will tear us apart, baby". Tem gente que termina por e-mail. Há casal que nunca termina, apesar de saber que devia. “Todo carnaval tem seu fim” cantavam equivocadamente os Hermanos. Porque todo carnaval tem o ano que vem e a próxima roda de samba. Outro beijo perfeito pra você anda por aí distraído com algum copo de cerveja e a sensação de orgulho ao perceber que alguém tão incrível te ama vai acontecer de novo.

Mas para dar o próximo passo vamos observar como se mata um quase amor:

[...]

- Oi. Está dormindo?
- Que horas são? Aconteceu alguma coisa?
- Bebi aquela garrafa de vinho que você comprou pra mim.
E decidi que sua amiguinha não vai dá pra ser. Ou amantes ou nada.
- Porra! São quatro da manhã!
- Isso. E você é essa moça linda, incrível, independente...
Como são as mulheres que eu tenho medo de amar.
- As mulheres? Plural? Amantes? Será que o vinho estava estragado?
- A mulher que eu tenho medo de amar. Singular. Você, idiota!
- Medo? Eu só sou a mocinha mais solitária que já segurou uma taça de vinho.
Tantas conversas, tantos emails trocados...
Você sabe de todos os meus fracassos amorosos.
Já deveria estar macetiada em mim.
- É sério. Para de fazer piada.
- Falando sério...
Acho que todo aquele frio que passei valeu a pena. De verdade.
Essa iluminação que você teve... Está certíssima.
Completamente apaixonadas uma pela outra ou nada.
- Que merda, garota! É a briga entre o quase amor e o medo puro.
O amor está perdendo no melhor estilo Vitor Belfor para o Anderson Silva.
- Com um lindo chute no rosto. Pobre Vitor, pobre amor.
- Mas nós duramos mais que os 3 minutos daquela luta.
- Sabia que o solo de Machu Picchu se move um centímetro por mês em
direção ao abismo?
Vai sumir! A cidade inteira anda, enquanto nós nunca saímos do lugar.
Nós duas, as maníacas compulsivas pelo futuro do pretérito.
- A gente se amaria de verdade? Daria certo por quanto tempo?
Haveria alegria além dos 90 minutos? Eu sempre me pergunto isso.
Você não?
- Eu teria passado o resto da vida fingindo gostar do seu péssimo gosto para
filmes, baby.
- Acho que deixaria você colocar o nome do nosso filho de Chico, meu amor.
- Sem “meu amor”, por favor.
Porque se vamos falar sério, as quatro da madrugada, seria bom parar com as mentiras e os vícios de linguagem usados para levar alguém pra cama.
- Não fala comigo como se eu não fosse a única aqui a te ligar e te procurar.
Como se eu não tivesse lutado por você.
- Não lutou e tudo bem.
Esse tipo de coisa não se pede, como a dedicatória de um livro.
A primeira página pode estar cheia de afeto e intimidade ou não.
- Gosto de você até quando fracassa na personagem de menor abandonada.
- Percebeu? Está indo... Está acabando.
- Não posso mais te ligar? E no MSN a gente ainda pode conversar?
- Se você sentir saudade...
Não adianta mensagem de texto, email ou escrever offline no MSN.
Se você realmente sentir falta de mim, faz tudo diferente e a gente toma aquele café.
Se cuida, garota.
- Hey, não seja assim tão dura com as palavras!
- Beijo!


[Fim]

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