A morte é um polímero. É
uma combinação de todas as pequenas fatalidades que te trouxeram até o presente
dia, das incontáveis vezes em que você teve que morrer para se desprender,
desligar, desapegar, crescer. Cada ciclo que se conclui é uma nova morte para a
sua coleção. Cada "última vez" e cada "nunca mais" te
propulsionam um pouco mais para longe do ponto inicial, te preparam para um
túmulo de pedra gelada aonde você pode largar aquele sonho que acabou, que se
realizou ou do qual você desistiu.
Quando te conheci, morri
uma vez, encobri com terra a minha realidade de tantas mortes sem importância,
"quais foram mesmo as causas das minhas mortes de antes?". Quando te
beijei, morri pela segunda vez, a partir dali não saberia mais viver longe do
calor e da umidade, nunca mais me importei com os dias de frio. Quando nos
casamos - em meu pensamento - , morri pela terceira vez, foi uma linda
cerimônia, uma pena você ter perdido, depois disso eu só conseguia ressuscitar
ao seu lado.
Morria mil vezes durante
o dia e me deixava continuar morta até te reencontrar, foi a mais poética de
minhas mortes, vivia quase a semana inteira em meu corpo de cadáver,
apodrecendo diante da vista indiferente das pessoas (estas preocupadas apenas
com a gravidade de suas próprias mortes diárias para prestar atenção no grau
avançado de minha decomposição), enquanto esperava o ônibus, cortava as unhas,
salgava as batatas e, só então na sua presença, me permitia voltar a viver.
Agora morro novamente.
Morro em um ato lento e contínuo. Esta morte se prolonga de modo como se não
quisesse me deixar morrer, não desta vez, e equilibro as outras mortes que
querem desabar sobre mim enquanto esta não acontece. Espero saber ressuscitar
tão bem como você me ensinou.
O bom das lágrimas é que
elas não deixam cicatrizes, imagine você, tantas que são essas mortes pelas
quais tenho que chorar. Só eu sei quantas mortes eu já morri nesta vida e estou
sempre vestida para o próximo funeral.
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