sexta-feira, 3 de junho de 2011

Mudanças

Para começar, não me entenda mal, eu não sei escrever. Muito menos sobre o viver, amar, talvez sobre medo e algumas neuroses. Isso aqui é só um texto de fundo de gaveta na primeira pessoa. E não espalha por aí, mas escrever na primeira pessoa é péssimo.

Era uma vez, em um bairro distante... Eu sempre matava aula para passar o dia inteiro com minha avó. Eu e ela, a casa era nossa, aquele era o nosso mundo favorito. Comentando jornais locais e fazendo bolachas. Podia ser em qualquer época, ela fazia bolachas com pedacinhos de chocolates. Eu nunca gostei, mas era delicioso ver sua alegria preparando o quitute tão doce. Quando se passa o dia inteiro em casa dividindo banalidades com quem temos carinho, passa rápido. Minha avó colocava a mão na cintura enquanto recolhia a roupa do varal e exclamava aflita: "Olha, Ise! O dia já acabou e nem percebemos!" E eu distraída dizia: "Calma, vó. Amanhã tem outro."

O viver e o amar são isso. O anoitecer que chega distraído e sem grandes preparações, sorríamos com a pressa do tempo e íamos tomar café.

Ontem, lá estava em um dos meus programas preferidos: que é ir ao supermercado, escolher vinhos, chocolates e tomates. O que não deveria ser a dieta apropriada para uma moça do meu tipo. E me deparo com bolachas com pedacinhos de chocolate! Já anoiteceu, o tempo passou e não percebi. Não assisti ao filme da Julia Roberts (Comer, rezar e amar), uma vez que pratico todos os verbos do título. Também não tenho ligado o suficiente para os meus amigos. Ando perdendo um precioso tempo no trânsito e com algumas garotas banais.

Hoje chorei lendo o jornal. Um hospital de Pernambuco criou para seus pacientes terminais uma "Caixa de Desejos". O personagem da matéria, Renato de 26 anos desejou casar-se com sua namorada. Em 3 dias preparam tudo! Bolo, vestido de noiva, terno... Casaram-se no civil e religioso. Na fotografia, apesar dos tubos, a alegria no olhar vale mais que muita morfina, afirmam alguns médicos. Na última sexta seu corpo foi sepultado, seus familiares estavam em paz e Renato conseguiu doar alguns órgãos que não estavam tomados pelo câncer.

Constatei que choro lendo jornal, que chorei ao não comprar o ingresso para o show do Maná e que me ocorrem lágrimas quando o aleatório toca pela terceira vez um certo Caetano e quando penso que você nunca vai entender a crônica que te escrevi.
Está decidido que não há mais tempo nessa vida para joguinhos, mentiras óbvias, leviandade com o coração alheio, prometer e não cumprir, deixar para mais tarde. Não há mais espaço para acostumar-se com que dói.

É como eu sempre digo: algumas bolachas e uma matéria de jornal podem mudar perspectivas.

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